Cinema brasileiro

02-09-2010 10:44

 

Cinema brasileiro

As origens

Heidi Strecker*
Especial para Página 3 Pedagogia & Comunicação

Reprodução/Trópico

O cineasta Mário Peixoto

Este é o primeiro de quatro artigos em que vamos aprender um pouco sobre a história do Cinema Brasileiro. Para isso, abordaremos a trajetória dos maiores filmes brasileiros, desde suas origens, passando pela chanchada, pelo cinema novo, até à retomada da produção de sucessos como "Cidade de Deus".

História do cinema brasileiro

A história do cinema brasileiro se confunde com a do cinema mundial. Em 1897, o empresário Vittorio di Maio realizou uma sessão de cinema com o cinematógrafo (o aparelho de projetar filmes) no Teatro Cassino-Fluminense, em Petrópolis.

Eram curta-metragens europeus e brasileiros: crianças dançando em uma escola do Andaraí e bondes no ponto terminal do Botafogo, bairros cariocas, e a chegada de um trem numa estação de Petrópolis (RJ). Tudo do jeitinho que os irmãos Lumière apresentaram, em 1895, em Paris, naquela que foi considerada a primeira sessão de cinema da história.

Em 1908 surgiram as primeiras realizações nacionais, como "Os Estranguladores" (filme baseado num crime que ficou famoso na época) e a comédia "Nhô Anastácio Chegou de Viagem".

Escritores conhecidos começaram a escrever para cinema. Em 1909, a opereta "A Viúva Alegre" chegou a bater recordes de bilheteria. Com a chegada de diretores e técnicos italianos para trabalhar no Brasil, a produção de filmes no Rio de Janeiro ganhou grande impulso.

Humberto Mauro

Nos anos 1920 os ciclos regionais se multiplicaram e o cinema passou a ser realizado em diversas partes do Brasil. Em Minas Gerais, o produtor Humberto Mauro fundou uma companhia de cinema que rodou filmes que ficaram famosos como "participantes do ciclo de Cataguazes".

O filme "Limite", dirigido por Mário Peixoto em 1931, é considerado uma obra prima do cinema brasileiro, apresentando tratamento visual sofisticado e trilha sonora erudita.

Na mesma época, os estúdios da Cinédia, no Rio de Janeiro, passaram a adotar um ritmo de produção regular, como os grandes estúdios de Hollywood. Foram realizados filmes como o drama "Ganga Bruta", o musical "Alô, Alô Brasil" e comédias românticas como "Bonequinha de Seda", de Oduvaldo Vianna.

Orson Welles e Vicente Celestino

Em 1942 os estúdios da Cinédia foram alugados para equipe do cineasta norte-americano Orson Welles, para a filmagem de "É Tudo Verdade". A indústria do cinema prosperava e um dos maiores sucessos do cinema brasileiro nesta época foi "O Ébrio", de Gilda Abreu, de 1946, estrelado por seu marido, o cantor Vicente Celestino.

A produção de filmes brasileiros cresceu bastante com a fundação da produtora Atlântida. O primeiro filme realizado por essa empresa foi "Moleque Tião", em 1943, uma comédia com temática popular. A Atlântida criou o gênero de cinema conhecido como chanchada, um tipo de comédia baseado na paródia, na sátira política e nas tiradas maliciosas.

 

 

A chanchada

Heidi Strecker*
Especial para Página 3 Pedagogia & Comunicação

Reprodução

Oscarito e Grande Otelo na capa da revista Cinema

A fundação da produtora Atlântida, em 1941, marcou o início de uma época de glória para o cinema no Brasil. Comediantes de grande talento foram revelados em comédias populares de grande sucesso - as chanchadas.

Fazendo humor bem brasileiro e debochado, os atores Oscarito e Grande Otelo formaram uma das duplas mais notáveis do cinema de todos os tempos. Bons no improviso e fazendo tipos malandros e simplórios, conquistaram o gosto popular. Atuaram juntos em diversas produções, entre as quais "Aviso aos Navegantes" e "Aí vem o Barão".

Outros grandes comediantes de sucesso atuaram com destaque nos anos 1950: Dercy Gonçalves, Wilson Grey, Zé Trindade e José Lewgoy.

Um tipo original foi criado pelo comediante Mazzaropi, que encarnou o caipira simplório, de grande empatia com o público. "Sai da Frente", "Nadando em Dinheiro" e "Candinho" foram alguns de seus filmes de destaque.

Vera Cruz
A Companhia Cinematográfica Vera Cruz foi fundada em 1949 por um grupo de empresários de São Paulo e tinha como objetivo criar um projeto cultural nacional. Os estúdios da Vera Cruz, em São Bernardo do Campo, em São Paulo, contavam com equipamentos sofisticados e deram um padrão internacional para o cinema brasileiro.

O primeiro filme realizado pela Vera Cruz foi "Caiçara", dirigido pelo italiano Adolfo Celi. A companhia Vera Cruz durou apenas alguns anos, mas produziu muitos filmes importantes para o cinema brasileiro, como "O Cangaceiro", dirigido por Lima Barreto e lançado em 1953.

A implantação de um star-system brasileiro, em que grandes estrelas ajudam a promover os filmes, foi iniciada pela companhia Vera Cruz. Foram produzidos dramas no estilo de Hollywood, estrelados por atores como Tonia Carreiro e Anselmo Duarte.

No início da década de 1960 o cinema brasileiro obteve reconhecimento no exterior com o filme "O Pagador de Promessas", que se tornou um clássico da cinematografia nacional. O filme, dirigido por Anselmo Duarte, ganhou a Palma de Ouro do prestigioso Festival de Cannes, na França.

 

 

Cinema novo

Heidi Strecker*
Especial para Página 3 Pedagogia & Comunicação

Reprodução

Cartaz de Deus e o Diabo na Terra do Sol

Na década de 1960 o cinema brasileiro passou por uma transformação radical. Vários novos cineastas - com a figura polêmica de Glauber Rocha à frente - surgiram dispostos a subverter tanto a maneira de realizar os filmes quanto a forma de pensar as relações entre cinema e sociedade. Surgia uma maneira diferente de fazer cinema, o cinema novo.

Uma estética foi sendo elaborada, graças também ao aparecimento de câmeras mais leves, mais fáceis de carregar. Elas passaram a ser usadas em movimento, como nas reportagens. A linguagem do cinema novo teve grande repercussão não só aqui, como em todo mundo todo.

Jovens cineastas procuraram romper com a tradição de cinema até então vigente no Brasil (como os dramas, os musicais e as chanchadas), criticando a imitação do cinema feito em Hollywood.

Fator de identidade
O cinema passou a ser entendido como um fator de identidade nacional, ligado à nossa cultura e à nossa maneira de encarar o mundo. O Brasil passou a se ver refletido nas telas de cinema, como um país pobre, de grandes contrastes sociais, convivendo com a fome, a miséria e a violência. O cineasta Glauber Rocha defendeu uma "estética da fome" (expressão que ele mesmo criou): transformar as deficiências da produção cinematográfica num modo próprio de fazer cinema.

A realidade do nordeste brasileiro tomou-se um dos temas principais dos novos cineastas. "Vidas Secas", referência à clássico de Graciliano Ramos, filmado por Nelson Pereira dos Santos e "Os Fuzis", de Ruy Guerra, apresentam uma visão de um Brasil miserável e violento, poucas vezes representado nas telas de cinema. "Deus e o Diabo na Terra do Sol", de Glauber Rocha, conta a história de um vaqueiro foragido da polícia que se junta primeiro a um bando liderado por um fanático religioso e depois passa a integrar um grupo de cangaceiros.

Esse filme lembra as histórias da literatura de cordel (histórias populares nordestinas, impressas em folhetos que ficam expostos pendurados em cordéis e são vendidos em feiras e mercados).

Problemas urbanos, cultura de massas
Não foi apenas a cultura nordestina que serviu de matéria-prima para o cinema novo. Os problemas urbanos, a violência, a cultura de massas e a marginalidade também foram discutidos, em filmes como "A Grande Cidade", de Carlos Diegues, "Terra em Transe", de Glauber Rocha, e "O Bandido da Luz Vermelha", de Rogério Sganzerla. Além do jagunço e do retirante, entraram em cena figuras como o operário, o imigrante, o marginal, o intelectual e o cidadão de classe média.
 

 

Cinema de retomada

Heidi Strecker*
Especial para Página 3 - Pedagogia & Comunicação

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Cartaz de Cidade de Deus

O cinema brasileiro viu despontar nos anos 1990 cineastas capazes de refletir a realidade do Brasil, com suas desigualdades e tragédias sociais, com boas histórias e qualidade técnica. Foi no período em que assistiu, aos poucos, ao retorno do público.

O documentário "Ônibus 174", de José Padilha é um exemplo. Narra o caso real de um jovem que seqüestrou um ônibus cheio de passageiros no centro do Rio de Janeiro.

Para contar essa história, o filme usa imagens dramáticas da TV (que mostrou o seqüestro ao vivo) e paralelamente conta episódios anteriores da vida do seqüestrador, de maneira extremamente hábil.

Depois de um período de estagnação de duas décadas, com problemas de financiamento e apoio, o cinema brasileiro voltou a produzir muitos filmes, vivendo uma fase chamada de "cinema da retomada". Entre 1995 e 1997 foram produzidos mais de cem filmes brasileiros, com qualidade técnica e atraentes para o público.

O filme "Central do Brasil", de Walter Salles Jr., lançado em 1998, obteve grande sucesso de público e de crítica. O filme ganhou o Urso de Ouro no festival de Berlim e foi indicado para o Oscar de melhor filme estrangeiro, tornando-se um marco na história do cinema brasileiro.

O documentário também é um gênero em que o Brasil vem conquistando grande relevância. O cineasta Eduardo Coutinho, em filmes como "Santo Forte", reinventou o relacionamento entre entrevistador e entrevistado, com resultados expressivos.

Cidade de Deus
Uma linguagem inovadora também marcou o filme "Cidade de Deus", de Fernando Meirelles. O mundo da criminalidade foi retratado com uma linguagem moderna, com ritmo ágil da narrativa e cortes rápidos. Os temas populares também aparecem na obra do estreante Breno Silveira, "Dois filhos de Francisco", que teve grande sucesso de público, ao relatar em forma de melodrama a infância da dupla Zezé diCamargo & Luciano.

A importância de um conjunto coerente e significativo de filmes lançados no Brasil nos últimos anos não deve ser subestimada. No entanto, o cinema brasileiro atual ainda tem grandes desafios a vencer, em meio a inúmeras dificuldades de produção, distribuição e exibição. Que o cinema brasileiro procura avançar, isso é certo. E o público deve contribuir, assistindo aos filmes aqui produzidos.
 

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